Baraka, pura meditação
Quando algo vem ter contigo sem saberes como nem porquê, lá terá as suas razões…
É o caso deste documentário não verbal, dirigido por Ron Frick, o terceiro da trilogia: Koyaanisqatsi, Chronos e Baraka.
Inicialmente baptizado com o nome de uma palavra Sufi, traduzida como ‘sopro de vida’ ou ‘bênção’, Ron Fricke consegue com este filme oferecer-nos uma cinematográfica ‘meditação guiada’ (descrição dele).
A objectiva de Fricke varia entre câmara lenta meditativa e desconcertante sobre a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, o templo Ryoan-Ji em Kyoto, Lago Natron na Tanzânia, queimando campos de petróleo no Kuwait, o precipício latente de um vulcão activo, uma movimentada estação de metro, celebrações tribais do Masai no Quénia, monges cantando no mosteiro Dip Tse Chok Ling... e assim por diante, através de localidades em todo o mundo.
Filmado em 24 países e 6 continentes, ao longo de 14 meses, juntando filmagens de várias paisagens, igrejas, ruínas, cerimónias religiosas e cidades, misturando com vida, numa busca permanente para que cada quadro consiga capturar a grande pulsação da humanidade nas actividades diárias, unindo o ritual religioso, os fenómenos da natureza e a própria destruição do homem. E consegue!
Como não-verbal que é, este extraordinário documentário tem a particularidade de não conter diálogos, apenas imagens e sons, conversas ou cânticos, que podem ser considerados como um narrador latente de uma intenção universal espiritual.
Diz Fricke: ‘Sinto que o meu trabalho evoluiu ao longo de Koyaanisqatsi, Chronos e Baraka. Tanto tecnicamente, como filosoficamente, estou pronto para mergulhar ainda mais fundo no meu tema favorito: relação da humanidade com o eterno…’
Só mais uma informação: a música (sublime) do documentário é de Michael Stearns.
Meditem, pois! E reflictam…
Espero que gostem!
(este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico)
Comentários
Este filme levanta várias questões para serem debatidas e discutidas. As imagens, as sonoridades nos mais "diversificados ambientes humanos", os comportamentos inerentes, quer tribais, religiosos ou urbanos, fazem-me questionar que tipo de "bicho" é o ser humano. O que é ser humano? Qual é a nossa essência ou essências? Será que evoluímos assim tanto em milhares de anos ou evoluímos porque criamos novos problemas para resolver e vamos criando outros problemas (a que chamamos "avanços da humanidade"), escondendo o desejo do poder, do lucro e da supremacia sobre os demais indivíduos e zonas habitacionais no Planeta pelos seus recursos naturais? Serão as religiões assim tão diferentes umas das outras ou serão antes uma "anestesia criativa da humanidade” para sossegar e estabilizar mentes inseguras e com medo?
A História da humanidade é testemunha disso mesmo! Os mesmos erros repetem-se. As vestes mudaram, os objectos e as tarefas também. Mas a nossa essência mudou desde que descobrimos o fogo e, desde logo, o cobiçamos aos que o descobriram em primeiro lugar? As grandes disparidades de condições de vida, de crenças, etc, etc, etc, levam-me a pensar na nossa essência que em pouco ou nada mudou mas a força da natureza do Planeta Terra, é mais forte do que nós.
O ambiente, os animais, por mais atentados que sofram, regeneram-se sozinhos sem a nossa ajuda / invenção. A Terra e os animais são pacientes, e seguem um curso natural que pode durar milhares de anos. O ser humano não tem essa paciência e essa capacidade. Para mim, somos seres complexos, paradoxais, incoerentes, dogmáticos, inseguros e que, por ignorância ou por ganância, tiramos mais do que damos. E isso não é bom. Somos uma raça que, paradoxalmente, "avançamos no tempo para trás". Isso pode significar a "Implosão da nossa existência"! Muito haveria a debater sobre este filme. Muito mesmo!
Paulo Wolf