A mulher alfa e a beta




Por várias vezes classificaram-me de mulher Alfa. Outras tantas como sendo uma Beta. Como se, além destas, não houvesse Gama. De forma sumária, diria que as Alfa são geralmente associadas ao ‘ser’ enquanto as Betas ficam presas ao ‘ter’. Mais abaixo digo-vos porquê.

Começando pela primeira estirpe – a mulher Alfa – são os homens quem mais desagrado demonstram perante a sua existência. Mais ainda, com a sua presença; seja num ambiente social ou enquadramento profissional. As Alfa são mulheres destemidas, lutadoras, líderes, positivas, persistentes. É o seu modo de ser – o tal ‘ser’ que referi acima – que está em jogo. Mas já lá iremos com mais detalhe.

Relativamente às Betas, o tom é tendencialmente jocoso: 'umas tontas afectadas, inúteis-abastadas, vidas-abonadas-pouco-afortunadas'. Acrescentam também que as betas se distinguem por usarem calças e camisas facilmente identificáveis – ao não ter consultado as ditas marcas, escuso-me a deixá-las gratuitamente publicitadas – por preferirem um bom par de ténis a saltos altos tipo agulha ou matacões compensados, por marcarem campo para um descontraído jogo de padle, ténis ou golfe em vez de um qualquer outro jogo ou actividade colectiva, gostarem mais de um tipo ou marca de carro em detrimento de outro, de uma decoração e não tanto de uma outra, por preferirem arquitectura orgânica à purista, por dispensarem música erudita se a dos anos 80 estiver por perto, por escolherem um filme nomeado para os Óscares em detrimento dos Palma ou Urso de Ouro, por preferirem pintura e arte clássica à contemporânea, ópera a teatro experimental entre outras coisas mais.

Resumindo: as Betas são rotuladas bem mais pelas suas preferências e aparência do que pela sua essência. Na classificação que recai sobre si, o ‘ter’ ganha clara evidência sobre o ‘ser’.

Avancemos agora para as Alfa – as tais que muitos preferiam que desistissem, desaparecessem e se extinguissem.

E porquê? Porque as Alfa tendem a ser diametralmente diferentes de um estereótipo feminino que muito agrada a quem não gosta do confronto, partilha de poder, da liderança masculina, da competência posta à prova. As Alfa destacam-se naturalmente. Transportam uma aura inconfundível facilitadora da sua integração social de forma autónoma do seu estatuto social, económico, cultural ou profissional.

A segurança da Alfa está patente no modo como concilia a estratégia de acção a médio e longo prazo com as várias necessidades de acção no imediato. Contorna adversidades, ultrapassa obstáculos sem se deixar derrubar, desmotivar, muito menos desistir. No meio de tudo isto, ainda dá uma ajuda a lemes alheios, motivando o içar de velas perante o aparecimento de ventos cruzados inesperados cuja força esteja a influenciar rumos anteriormente traçados.

Age de forma direta e assertiva de modo a minimizar perdas de tempo ou erros desnecessários. Distingue crítica positiva de crítica destrutiva absorvendo, de cada uma delas, o que a faz crescer e avançar. Livra-se fácil e rapidamente do que não interessa: pessoas, negócios, sítios ou bens. Pelo contrário, luta por eles enquanto merecerem o seu esforço e empenho.

Sente-se bem consigo, não sobrevaloriza regras ou tendências de moda, de comportamento, tão pouco compromete a sua presença em eventos ou locais de (vã) promessa de ascendência social.

Os maiores desafios trava-os consigo mesma: define objectivos, tenta alcançá-los e, se possível, superá-los. Quando não o consegue, motiva-se reinventando-se em busca de melhores e mais eficazes soluções, nunca virando costas a uma remodelação integral.

A mulher Alfa tem como sua grande aliada a inteligência, utilizando-a a maior parte do tempo – fundamentalmente nos intervalos. Faz-se rodear de quem acredita em si, nas suas capacidades e projectos, tal como ela mesma acredita em si. Prefere arrepender-se de algo que fez do que arrepender-se de ter deixado fugir uma boa oportunidade.

Dito isto, vem a conclusão que importa: todas as mulheres são Alfa. Todas. Nem todas, porém, já se decidiram a pôr em prática esta sua competência natural. A boa notícia é que o crescente número (visível) de mulheres Alfa, num mundo formatado para o domínio do masculino sobre o feminino, está a alterar o paradigma dominante e o preconceito.

Há cada vez mais espaço para a implementação integral daquele que tem sido o paradigma emergente, assimilado naquele que tem sido, há muito, um espaço dominado e (quase) exclusivo dos homens.

Muitos são os que se sentem ameaçados na sua condição de “protectores do sexo fraco” apresentando sérias dificuldades em aceitar o novo paradigma. Mas esse é um trabalho que só a eles cabe fazer. Às Alfa compete continuar a transformar o mundo através da aplicação de todo o seu potencial, do seu talento e capacidade, enfrentando este desafio como qualquer outro.

Alfas ou Betas – até mesmo ambas as estirpes numa única e só pessoa – fazem parte de uma só Gama: todas elas são mulheres. Mulheres em que feminino e masculino são meros acessórios que surgem por inerência ao código genético, mesmo que em doses ou percentagens distintas. Não é isso que faz delas mais ou menos Alfas. Mais ou menos Betas. Mais ou menos Capazes. Mais ou menos Mulheres.

Quem considere que as Alfa são menos mulheres ou, pior ainda, considere as mulheres, de um modo geral, menos capazes, dá sinais preocupantes de uma produção deficiente de testosterona, desequilíbrio este que, por toldar o juízo, diminui a capacidade de se sentir suficientemente seguro num mundo onde a igualdade de género é essencial e incontornável.

Por muito que possam espernear, rejeitar e refutar, ter-se-ão de conformar com a realidade, deixando de parte um imaginário sexista desactualizado, desajustado e prejudicial a um processo que se pretende evolutivo e distante de um estádio primata. Será por isso conveniente que realizem que se trata de um processo que há muito arrancou e que não há como travar ou meter marcha atrás.

«Read my lips»: a igualdade de género é um processo fundamental e irreversível.

Fonte: Capazes

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