Sozinho é uma coisa, solitário é outra...
Não confio no amor de quem não consegue ficar sozinho. Nunca foi ao cinema sozinho, nunca viajou sozinho, preambula pela rua feito um cão que se perdeu do dono. Sentar na lanchonete de uma livraria para tomar um cafézinho assemelha-se a uma catástrofe. Sua solidão lhe parece vergonhosa e indigesta, é evitada com o mesmo afinco com que evitaria a morte. Para ele, qualquer parceria é melhor que nenhuma. Uma conversa enfadonha é melhor que o silêncio. Um chato é melhor que ninguém. É praticamente um viciado em companhia. E, como todo viciado, critério não é o seu forte. Não confio no amor de quem não se suporta. De quem telefona a fim de papo furado, de quem envia mensagens só para ouvir o sinal da chegada da resposta, de quem precisa se iludir de que não está só. Quem de nós não está só? Uma manhã de frente para o mar, uma tarde com um livro, uma noite com um filme, três dias inteiros numa cidade estranha, uma rua que nunca foi atravessada, um museu com tempo livre à von...