É possível agradarmos a todos?





A sociedade tolera mal todos aqueles que decidem ser autónomos no modo de pensar e de agir...

Segundo a conhecida fábula de La Fontaine, certo dia um velho pôs-se a caminho do mercado levando consigo o filho e um burro. Na estrada cruzaram-se com algumas pessoas que gozaram ‘vejam só que tolos, vão a pé quando podiam montar o burro’. O velho decidiu então colocar o rapaz em cima do burro. Mais à frente, ouviam-se comentários ‘ali vai um exemplo da geração moderna, enquanto que o velho pai vai a pé, o jovem vai refastelado em cima do burro’. Trocaram então de posições.

Alguns quilómetros à frente, as vozes fizeram-se ouvir: ‘a crueldade de alguns pais é tremenda. Aquele preguiçoso em cima do burro, enquanto a criança vai a pé!’. Para calarem as bocas do povo, decidiram que ambos montariam o animal. ‘Oh pobre animal, que maltratado está. Os dois deviam ser presos!’. Em desespero de causa, optaram por colocar o animal às costas e serem eles próprios, pai e filho, a carregá-lo. Quando atravessavam uma ponte, o burro, que não estava nada confortável naquela posição, começou a dar coices com tanta energia que pai e filho caíram à água.

Esta história leva-nos pensar nas situações em que somos forçados a agir de determinada maneira, influenciados pela opinião dos outros. Existem, inclusive, pessoas que vivem permanentemente assim. São movidas pela ilusão de ser possível agradar a toda a gente e, nessa permanente busca, esquecem-se que elas próprias possuem capacidades para ajuizar as situações e agir em conformidade com a sua educação e valores.

Tudo isto implica, claro está, sujeitar-se a criticas. É que a sociedade tolera mal todos aqueles que decidem pensar com as suas cabeças. De algum modo, encaram-nas como uma ameaça, já que podem tornar-se incómodos e operar mudanças sociais.

Posto isto, há uma relutância na aceitação de todos os que pensam de modo diferente ou, no limite, que ousam pensar autonomamente. Por outro lado, todos os que se deixam levar pelas vozes do povo, acabam por (sobre)viver como marionetas manipuladas pelos outros. Esta atitude fá-las possuir um fraquíssimo auto-conceito que não lhes permite reagir.

Vivem ao sabor da vontade de alguém, o que significa frequentemente andar à deriva, sem saberem muito bem o que fazer das suas vidas. Falta-lhes assertividade, falta-lhes garra, falta-lhes energia e, sobretudo, CORAGEM para assumirem as suas acções e debaterem os seus pontos de vista.

Nesta mediana vivência, acabam por estar sempre inseguros e dependentes dos outros. Mas, como a fábula nos mostra, agradar a todos é uma missão impossível, leva a frustrações e fragiliza-nos a auto-estima.

É preferível pautar o nosso comportamento pela coerência e ter bem presente que, apesar dos ‘cães ladrarem, a caravana continuará a passar’...

Autor Teresa Paula Marques - Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta

(este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico)

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